Orgulho, sem preconceitos
Reitora Márcia Abrahão destaca que a Universidade de Brasília perfaz as utopias de Darcy Ribeiro com cotas, inclusão social e ensino inovador
Texto: Márcia Abrahão, reitora da UnB
Fotografia: ACE UnB.
No centenário de nascimento de Darcy Ribeiro (1922-1997), a revista que leva seu nome nos brinda com visões e conexões, em imagens e textos. O antropólogo e fundador da Universidade de Brasília abre passagem por estas páginas para que nos lembremos sempre de que estamos em espaço de liberdade, de ousadia e de reconhecimento.
Com Darcy, voltamos ao princípio democrático de construção de um projeto pedagógico inovador. Com o autor de O povo brasileiro, encontramos a sociedade pulsante que preenche de afeto e força esta universidade necessária há 60 anos. Entre as opções de resignar ou se indignar, preferimos nunca parar.
Seguimos, junto com Darcy, empenhados na condução de uma instituição inquieta desde a origem e objeto permanente de inquietações. Foi assim em várias tentativas de calar a UnB, em particular durante 20 anos de ditadura militar. A resposta do fundador no período de intransigência nos serve de inspiração:
“A UnB é uma utopia vetada, é uma ambição proibida, por agora, de exercer-se. Mas permanece sendo, esperando, como a nossa utopia concreta, pronta a retomar-se para se repensar e refazer, assim que recuperarmos a liberdade de definir o nosso projeto como povo e a universidade que deve servi-lo.”
Sem nunca desligar, retomamos, refizemos, recuperamos, redefinimos nossas utopias. E elas se transformaram em cotas, em inclusão social, em vestibular indígena, em luta incessante pela entrada e permanência dos mais vulneráveis. Para isso, não houve qualquer motivo para abrir mão da excelência acadêmica.
Ao lado de Darcy, a UnB se sente bem acompanhada. Porque isso significa vontade de expressão, desejo de falar, necessidade de gritar. E uma clara propensão a abraçar o mundo de todos, na vanguarda de um país sedento por diminuir desigualdades, uma nação disposta a progredir sem soltar laços que nos identificam.
Nos primórdios da invenção, Darcy Ribeiro criticava o modelo de universidade vigente à época: “colonizado, alienado, e dependente de matrizes estrangeiras”. Queria algo novo, redentor, revolucionário. Não à toa a criação da UnB enfrentou resistência de autoridades, que temiam a “agitação estudantil” próxima ao poder.
“Comecei então a arguir sobre a necessidade de criar também uma universidade e sobre a oportunidade extraordinária que ela nos daria de rever a estrutura obsoleta das universidades brasileiras, criando uma universidade capaz de dominar todo o saber humano e de colocá-lo a serviço do desenvolvimento nacional.
A UnB nunca foi, portanto, pouco ambiciosa. Sempre quis – e ainda quer – o mundo a partir do seu local, baseada no plano inicial. Objetivos do primeiro estatuto continuam válidos: formar cidadãos e cidadãs responsáveis, “empenhados na busca de soluções democráticas para os problemas com os quais se defronta o povo brasileiro em sua luta pelo desenvolvimento econômico e social”.
E mais: preparar profissionais de nível superior altamente qualificados em todos os campos do conhecimento; congregar cientistas, intelectuais e artistas; colaborar com estudos sistemáticos e pesquisas originais, para o melhor e mais completo conhecimento da realidade brasileira em todos os seus aspectos.
Há outros propósitos para a existência da UnB, relacionados ao seu papel na capital do país, à proximidade dos poderes públicos, à colaboração e à cooperação com outras universidades e instituições científicas e culturais, com a intenção de enriquecer a ciência, as letras e as artes.
Esta edição da Darcy, nossa revista de jornalismo científico e cultural, adequa-se a este rol de comunicação com a sociedade que nos sustenta e nos confere valor, reforçando a “fraternidade dos intelectuais”, a “autonomia cultural”, e a “liberdade de investigação e de expressão”.
Sendo assim, desejo boa e grata leitura.